10 de outubro de 2014

Bispos lamentam que igrejas estejam cheias de «viúvos do divórcio»


Na última conferência de imprensa dedicada às congregações gerais, que terminaram ontem da parte da tarde no Sínodo para a Família que decorre no Vaticano, grande parte das intervenções foram dedicadas ao tema do matrimónio e aos desafios que esta temática apresenta.

Segundo o Pe. Dorantes informou os jornalistas, muitas das intervenções tocaram na questão da misericórdia para com os católicos afetados pelo divórcio. «Um dos padres sinodais recordou que devemos ajoelhar-nos diante do Espírito Santo, pois não somos chefes da misericórdia de Deus, e devemos recordar-nos que a missão que Jesus deixou aos apóstolos foi de evangelizar e curar, e isto significa levar a Boa Nova», referiu o sacerdote que está encarregue de resumir as intervenções em língua espanhola que acontecem na aula sinodal.

A possibilidade de haver um caminho penitencial a poder ser realizado pelos divorciados, nomeadamente aqueles «que são fiéis ao matrimónio mas que a outra pessoa abandonou», foi uma possibilidade levantada pelos oradores da tarde de ontem, à semelhança do que já tinha sido em dias anteriores. «Ontem diversos bispos abordaram este tema de forma intensa. Deram um bom exemplo de como se pode exercitar este caminho, com uma exigência de reflexão sobre as consequências de uma decisão destas para com os filhos, ou de como se colocar perante Deus na situação em que se encontra», disse o Pe. Lombardi, porta-voz do Vaticano.

«É preciso fazer um caminho de reconciliação e abertura. As igrejas estão cheias de viúvos e viúvas do divórcio», lamentou outro dos bispos sinodais que fez ontem a sua intervenção. Alguns bispos apontaram a falta de fé como possível motivo para avaliar a validade do matrimónio. Hipótese semelhante já tinha sido levantada pelo então Papa Bento XVI, quando, em janeiro de 2013, dizia aos membros do Tribunal da Rota Romana que «não se deve prescindir da consideração que se possam verificar casos nos quais, precisamente devido à ausência de fé, o bem dos cônjuges resulte comprometido», disse o então Papa. Apesar de ser um critério que pode levantar questões de subjetividade, não foram adiantadas mais informações sobre as discussões que decorreram daqui, pelo que apenas na relatio post disceptationem se poderá perceber melhor as propostas apresentadas pelos padres sinodais.

Um dos bispos sinodais criticou o «ato social» em que se tornou o matrimónio. «Os pobres veem-no como um ato inalcançável, e muitos jovens veem-se obrigado a unir-se apenas, com a perspetiva de se casarem mais tarde, por causa dessa perspetiva, criticou esse bispo.

Alice Heinzen, uma das leigas convidadas a estar hoje no briefing aos jornalistas, explicou que, para poder fazer com que este caminho penitencial resulte, é preciso muita formação prévia. «Fazer o caminho pela penitência só pode ser possível se houver conhecimento do sacramento e das leis da Igreja. Primeiro há que educar as pessoas, e depois é uma conversão de coração, e por aí ficamos mais próximos do Senhor, pois é aí que encontraremos a felicidade», disse esta leiga americana.

Dar uma «segunda oportunidade» à Humanae Vitae
Leigos querem que Humanae Vitae tenha uma
segunda oportunidade junto dos católicos
Questionada sobre a validade das propostas da Humanae Vitae nos dias de hoje, Alice afirmou que já é tempo dos casais católicos «darem uma segunda oportunidade aos métodos naturais», em virtude dos «recursos», que são «muito mais fortes do que eram na altura da publicação da encíclica». «Há muitas novidades nesse campo e encorajo os media a olharem para isso, porque vem aí muita coisa boa», referiu a leiga.

Jeffrey Heinzen, o marido, que trabalha com a esposa nesta área dos métodos naturais de planeamento familiar, explicou aos jornalistas que, «quando os casais têm uma compreensão da sua relação e da fertilidade entre eles, a confiança passa para outro nível». «Porquê termos casamentos bons, quando podemos ter casamentos fantásticos? O que mais podem desejar os homens do que ter as suas mulheres sempre satisfeitas?», perguntou, provocando risos entre os jornalistas presentes.

Finalmente, os bispos pronunciaram-se também sobre o problema das crianças cujos pais estão divorciados, e do efeito de “bola de pingue-pongue” que sofrem quando são obrigadas a saltar entre a casa do pai e da mãe, e têm de conviver com os novos parceiros que os seus pais arranjam. «Quando estava para vir para o Sínodo, estive com uma criança que está no 5º ano numa escola católica. Disse-lhe que vinha ter com o Papa Francisco e perguntei-lhe o que ele queria que lhe dissesse. “Diga ao Papa que sou filho de pais divorciados, e que a minha mãe tem um namorado novo e o meu pai uma mulher nova. É tudo muito triste”. Esta é a realidade que temos de combater», disse Alice Heinzen.

Segundo os bispos também alertaram a aula sinodal, parte deste combate passa pela formação teológica e antropológica do clero. «Eles devem saber explicar, com argumentos, as questões relacionadas com a família», referiram os bispos durante a congregação geral de ontem de tarde


0 comentários:

Enviar um comentário