Na última conferência de imprensa
dedicada às congregações gerais, que terminaram ontem da parte da tarde no
Sínodo para a Família que decorre no Vaticano, grande parte das intervenções
foram dedicadas ao tema do matrimónio e aos desafios que esta temática
apresenta.
Segundo o Pe. Dorantes informou
os jornalistas, muitas das intervenções tocaram na questão da misericórdia para
com os católicos afetados pelo divórcio. «Um dos padres sinodais recordou que
devemos ajoelhar-nos diante do Espírito Santo, pois não somos chefes da
misericórdia de Deus, e devemos recordar-nos que a missão que Jesus deixou aos
apóstolos foi de evangelizar e curar, e isto significa levar a Boa Nova»,
referiu o sacerdote que está encarregue de resumir as intervenções em língua
espanhola que acontecem na aula sinodal.
A possibilidade de haver um
caminho penitencial a poder ser realizado pelos divorciados, nomeadamente
aqueles «que são fiéis ao matrimónio mas que a outra pessoa abandonou», foi uma
possibilidade levantada pelos oradores da tarde de ontem, à semelhança do que
já tinha sido em dias anteriores. «Ontem diversos bispos abordaram este tema de
forma intensa. Deram um bom exemplo de como se pode exercitar este caminho, com
uma exigência de reflexão sobre as consequências de uma decisão destas para com
os filhos, ou de como se colocar perante Deus na situação em que se encontra»,
disse o Pe. Lombardi, porta-voz do Vaticano.
«É preciso fazer um caminho de
reconciliação e abertura. As igrejas estão cheias de viúvos e viúvas do
divórcio», lamentou outro dos bispos sinodais que fez ontem a sua intervenção.
Alguns bispos apontaram a falta de fé como possível motivo para avaliar a
validade do matrimónio. Hipótese semelhante já tinha sido levantada pelo então
Papa Bento XVI, quando, em janeiro de 2013, dizia aos membros do Tribunal da Rota
Romana que «não se deve prescindir da consideração que se
possam verificar casos nos quais, precisamente devido à ausência de fé, o bem
dos cônjuges resulte comprometido», disse o então Papa. Apesar de ser um
critério que pode levantar questões de subjetividade, não foram adiantadas mais
informações sobre as discussões que decorreram daqui, pelo que apenas na relatio post disceptationem se poderá
perceber melhor as propostas apresentadas pelos padres sinodais.
Um dos bispos sinodais criticou o
«ato social» em que se tornou o matrimónio. «Os pobres veem-no como um ato
inalcançável, e muitos jovens veem-se obrigado a unir-se apenas, com a
perspetiva de se casarem mais tarde, por causa dessa perspetiva, criticou esse
bispo.
Alice Heinzen, uma das leigas
convidadas a estar hoje no briefing aos jornalistas, explicou que, para poder
fazer com que este caminho penitencial resulte, é preciso muita formação
prévia. «Fazer o caminho pela penitência só pode ser possível se houver conhecimento
do sacramento e das leis da Igreja. Primeiro há que educar as pessoas, e depois
é uma conversão de coração, e por aí ficamos mais próximos do Senhor, pois é aí
que encontraremos a felicidade», disse esta leiga americana.
Dar uma «segunda oportunidade» à Humanae
Vitae
Leigos querem que Humanae Vitae tenha uma segunda oportunidade junto dos católicos |
Jeffrey Heinzen, o marido, que
trabalha com a esposa nesta área dos métodos naturais de planeamento familiar,
explicou aos jornalistas que, «quando os casais têm uma compreensão da sua
relação e da fertilidade entre eles, a confiança passa para outro nível».
«Porquê termos casamentos bons, quando podemos ter casamentos fantásticos? O
que mais podem desejar os homens do que ter as suas mulheres sempre satisfeitas?»,
perguntou, provocando risos entre os jornalistas presentes.
Finalmente, os bispos
pronunciaram-se também sobre o problema das crianças cujos pais estão
divorciados, e do efeito de “bola de pingue-pongue” que sofrem quando são
obrigadas a saltar entre a casa do pai e da mãe, e têm de conviver com os novos
parceiros que os seus pais arranjam. «Quando estava para vir para o Sínodo,
estive com uma criança que está no 5º ano numa escola católica. Disse-lhe que vinha
ter com o Papa Francisco e perguntei-lhe o que ele queria que lhe dissesse. “Diga
ao Papa que sou filho de pais divorciados, e que a minha mãe tem um namorado
novo e o meu pai uma mulher nova. É tudo muito triste”. Esta é a realidade que
temos de combater», disse Alice Heinzen.
Segundo os bispos também
alertaram a aula sinodal, parte deste combate passa pela formação teológica e
antropológica do clero. «Eles devem saber explicar, com argumentos, as questões
relacionadas com a família», referiram os bispos durante a congregação geral de
ontem de tarde
0 comentários:
Enviar um comentário