O Sínodo extraordinário sobre a
Família, começado no dia 5 de Outubro de 2014 e que só terminará em 1915 com a
segunda parte deste mesmo Sínodo, suscita em todos, genericamente, ansiedade,
expetativas, surpresa e alegrias.
Desde já alegrias. Todos
reconhecem que este tema toca com as fontes da fé, e estas são as palavras da
sagrada Escritura. A Igreja, por isso, nunca poderá deixar de proclamar a
Palavra de Deus sobre a família e os alcances, espiritual, social, comunitário e
geracional desta. Com decisão e firmeza, a Igreja quer dizer uma palavra
própria, e por isso terá que estudar e excogitar o que genuinamente diz a
Sagrada Escritura sobre a família. E diz muito; e coisas muito essenciais que
só fazem bem à vida e às sociedades humanas.
Há de propô-las com a “alegria do
Evangelho” e a ânsia de chegar validamente a todos, e especialmente aos últimos
ou aos marginalizados ou desiludidos da vida – sobretudo da vida familiar.
Acerca desta realidade, há uma brecha – uma gravíssima brecha – que transversalmente
tem a ver com o mundo inteiro. Parece que ninguém escapa dela. Duma maneira ou
de outra: por medo que lhe suceda, o mais das vezes o inevitável; devido a
feridas que já sangraram e muitas delas, infelizmente, até se repetiram; por
acomodamento ao que a sorte lhes ditou; pela inevitabilidade da situação em que
se encontram em que muitas vezes não têm saídas, ou se as têm, são muito
difíceis de conseguir...
Por conseguinte, a Igreja terá
que esmiuçar a Boa Nova bíblica e evangélica sobre a Família, da forma mais
clara e precisa possível, inspirando-se no exemplo e na pessoa de Jesus, o qual
não se coibiu de reclamar o que para Ele era inevitável e inquestionável: a
fidelidade ao projeto de Deus Criador e instituidor do matrimónio, tal como
vinha desde “o princípio” (cf Mc 10,6-9). Conseguirá a Igreja construir um
discurso segundo o agrado de Deus que, ao mesmo tempo, seja fonte de alegria,
de inspiração e de paz para todos?
Este é o grande repto e desafio
que o Sínodo coloca à “grande Igreja”. Será ela ainda capaz de galvanizar e
chamar a atenção sobre o sentido da família e do matrimónio, tal como a Igreja
o concebe (e reforma!) sob inspiração da Palavra de Deus? Naturalmente que
neste capítulo não vivemos no melhor dos mundos, bem sabendo que o mundo anseia
ouvir da Igreja uma Palavra estimuladora e de consolação.
Estes vão ser os temas que
obrigatoriamente terão de ser tratados, segundo a nossa perspetiva acabada de
explicar: o amor mútuo de adultos, com vinculação estável de pessoas
(especialmente homens com mulheres); o acolhimento e educação pessoal dos
filhos num contexto de maturidade afetiva ou relacional (sem esta, a paz e a
concórdia acabam no mundo e toda a humanidade pode cair no risco duma opressão
de alguns ou duma violência que a todos atinge); o problema da identidade
pessoal e individual, comunitária e social (sem esta, os seres humanos podem
suicidar-se e fá-lo-ão, se não se cuidar da família).
Na vigília em favor do Sínodo
realizada na Praça de S. Pedro, sob organização da Igreja italiana, também o
próprio Papa Francisco falou no mesmo sentido: «O Papa olhou para o Sínodo e
fez dele um sonho, “um sonho essencial de estabilidade, e uma porta
aberta". Uma história, a da salvação, e a da família, "à qual se
pertence: a comunhão de vida entre os esposos, a sua abertura ao dom da vida, a
guarda recíproca, o acompanhamento educativo ou a transmissão da fé, contribuem
para uma sociedade mais justa e solidária. Temos uma ocasião providencial para
renovar, a exemplo de S. Francisco, a Igreja e a sociedade. Com a alegria do
Evangelho apontaremos o caminho de uma Igreja reconciliada e misericordiosa,
pobre e amiga dos pobres, com capacidade de vencer, com paciência e amor, as
aflições e as dificuldades que vierem tanto de dentro como de fora». Assim falou
o Papa Francisco na vigília do Sínodo.
E qual o caminho que os Padres
sinodais deveriam adotar ou abrir para aqui se chegar? A História da Igreja até
ao terceiro século indica-lho claramente pela maneira como trataram e (re)admitiram
na Igreja os pecadores inscritos em práticas penitenciais muito difíceis. Os
doutores e professores da fé daquele tempo, uma vez mudados em Pastores (bispos
e papas), ofereceram a medicina da misericórdia, quando antes dos mesmos só
havia aplicação moral ou legal contra os prevaricadores. Se a história do
sacramento da penitência nos ensina esta intuição e mudança evangélica, agora é
só mudá-la para ser aplicada à questão familiar.
P. Mário José dos Santos, SSP
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