14 de outubro de 2014

Relatório preliminar «não é o pensamento» do Sínodo


A conferência de imprensa do Sínodo da Família desta manhã foi dominada por questões relacionadas com o mal estar demonstrado pelos bispos após a leitura do Relatio post disceptationem, da autoria do cardeal Péter Erdò. Os bispos demonstraram discordância com alguns dos pontos do Relatio, mas o pior mesmo foram as notícias que surgiram na comunicação social. Aliás, o primeiro ponto de ordem foi feito pelo Pe. Lombardi, em nome da Secretaria geral do Sínodo. «A secretaria-geral do Sínodo informa que os grupos linguísticos, em círculos menores, estão reunidos para aprofundar o documento de trabalho que, recordam, é um “work in progress” e apenas isso», disse o Pe. Lombardi a abrir os trabalhos, mostrando-se «surpreso» com a quantidade de jornalistas ali presentes.

O cardeal Wilfrid Napier mostrou de forma mais clara o seu descontentamento. «Este documento é do Cardeal Erdò, não é um documento do Sínodo. Nós estamos a trabalhar no documento, e só depois do nosso trabalho é que será o nosso documento, o do Sínodo», disse aos jornalistas, acrescentando que as notícias veículas pelos meios de comunicação social em todo o mundo colocaram «pressão» sobre os padres sinodais. «A mensagem saiu, e agora os padres sinodais estão numa posição difícil. Diz-se que este é o pensamento do Sínodo, mas isso não é verdade, pois o Sínodo não tomou essas posições. Tudo o que fizermos agora será encarado como “controle de danos”, mas essa não é a verdade», lamentou o cardeal sul-africano.

Apesar disso, o cardeal sul-africano mostrou-se satisfeito que «as pessoas quisessem saber o que estava em causa aqui no Sínodo». «O risco é apenas que se criem demasiadas expetativas, quando isto é apenas um documento de trabalho. As frases que são colocadas no relatio podem induzir a que o sínodo já está a decidir coisas, mas isso não é real», criticou o cardeal Napier, numa referência velada ao autor do relatório, o cardeal Erdò.

Questionado sobre se o relatório preliminar tinha visões pessoais e não do sínodo, o cardeal Napier afastou qualquer possibilidade desse aspeto. «Não tenho razões para crer que haja pessoas no sínodo que estejam mais interessadas na sua visão que na visão do sínodo, e sei que o documento final vai refletir a visão da Igreja», disse o cardeal.

Sobre o assunto, o Pe. Lombardi enfatizou que não tinha havido críticas ao documento, que recolhia as opiniões de uma semana de trabalho sinodal. «Alguns bispos, nas suas intervenções, afirmaram a necessidade de ajustar este ou aquele ponto, mas no geral todos elogiaram o documento produzido», referiu o porta-voz.

O cardeal Fernando Filoni, italiano, referiu aos jornalistas que no seu grupo de houve «perplexidade» com a repercussão que o relatório preliminar teve na comunicação social. «Parecia que eram já as decisões da Igreja ou o Papa a falar, quando é apenas um documento de trabalho», reforçou o cardeal italiano.

O prelado aludiu ainda à necessidade das pessoas perceberem que o Sínodo não vai «resolver problemas». «As expetativas são más se pensarem que aqui se vão resolver problemas. Não pode ser “amanhã damos a solução para todos os problemas”, o que se deve dizer é que a Igreja tem todos estes problemas no centro das suas atenções», afirmou aos jornalistas.

Para além de questões relacionadas com o mal estar do relatório dentro da aula sinodal, que dominaram a conferência de imprensa, o cardeal Napier teve ainda oportunidade para explicar como o círculo menor de que é moderador abordou a realidade da família nos dias de hoje. «Falámos sobre a família como tendo as flutuações de um dia: de manhã, quando tudo é fantástico, de tarde, quando as dores começam a sentir-se, e de noite, quando os problemas surgem e temos de lidar com os problemas. Parece que os problemas não vão terminar, mas é preciso levar uma mensagem de esperança de que uma nova manhã irá surgir», lembrou o cardeal sul-africano.

Referindo-se à missão de cada família, este prelado defendeu que, hoje, também a família tem de ser missionária. «No passado a Missão era reservada a religiosos, mas a novidade é que a família compreendeu que pode ser não apenas objeto da evangelização, mas também agentes da evangelização, e hoje temos famílias que saem, depois de um período de formação, para a missão. E isto é muito rico, porque para além do anúncio da doutrina, há a riqueza do testemunho», disse o cardeal Napier.


Texto: Ricardo Perna
Foto: News.va

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