A conferência de imprensa do
Sínodo da Família desta manhã foi dominada por questões relacionadas com o mal estar demonstrado
pelos bispos após a leitura do Relatio
post disceptationem, da autoria do cardeal Péter Erdò. Os bispos
demonstraram discordância com alguns dos pontos do Relatio, mas o pior mesmo foram as notícias que surgiram na
comunicação social. Aliás, o primeiro ponto de ordem foi feito pelo Pe.
Lombardi, em nome da Secretaria geral do Sínodo. «A secretaria-geral do Sínodo
informa que os grupos linguísticos, em círculos menores, estão reunidos para
aprofundar o documento de trabalho que, recordam, é um “work in progress” e
apenas isso», disse o Pe. Lombardi a abrir os trabalhos, mostrando-se
«surpreso» com a quantidade de jornalistas ali presentes.
O cardeal Wilfrid Napier mostrou
de forma mais clara o seu descontentamento. «Este documento é do Cardeal Erdò,
não é um documento do Sínodo. Nós estamos a trabalhar no documento, e só depois
do nosso trabalho é que será o nosso documento, o do Sínodo», disse aos
jornalistas, acrescentando que as notícias veículas pelos meios de comunicação
social em todo o mundo colocaram «pressão» sobre os padres sinodais. «A
mensagem saiu, e agora os padres sinodais estão numa posição difícil. Diz-se
que este é o pensamento do Sínodo, mas isso não é verdade, pois o Sínodo não
tomou essas posições. Tudo o que fizermos agora será encarado como “controle de
danos”, mas essa não é a verdade», lamentou o cardeal sul-africano.
Apesar disso, o cardeal
sul-africano mostrou-se satisfeito que «as pessoas quisessem saber o que estava
em causa aqui no Sínodo». «O risco é apenas que se criem demasiadas expetativas,
quando isto é apenas um documento de trabalho. As frases que são colocadas no relatio podem induzir a que o sínodo já
está a decidir coisas, mas isso não é real», criticou o cardeal Napier, numa referência
velada ao autor do relatório, o cardeal Erdò.
Questionado sobre se o relatório
preliminar tinha visões pessoais e não do sínodo, o cardeal Napier afastou
qualquer possibilidade desse aspeto. «Não tenho razões para crer que haja
pessoas no sínodo que estejam mais interessadas na sua visão que na visão do
sínodo, e sei que o documento final vai refletir a visão da Igreja», disse o
cardeal.
Sobre o assunto, o Pe. Lombardi
enfatizou que não tinha havido críticas ao documento, que recolhia as opiniões
de uma semana de trabalho sinodal. «Alguns bispos, nas suas intervenções,
afirmaram a necessidade de ajustar este ou aquele ponto, mas no geral todos
elogiaram o documento produzido», referiu o porta-voz.
O cardeal Fernando Filoni,
italiano, referiu aos jornalistas que no seu grupo de houve «perplexidade» com
a repercussão que o relatório preliminar teve na comunicação social. «Parecia
que eram já as decisões da Igreja ou o Papa a falar, quando é apenas um
documento de trabalho», reforçou o cardeal italiano.
O prelado aludiu ainda à
necessidade das pessoas perceberem que o Sínodo não vai «resolver problemas».
«As expetativas são más se pensarem que aqui se vão resolver problemas. Não
pode ser “amanhã damos a solução para todos os problemas”, o que se deve dizer
é que a Igreja tem todos estes problemas no centro das suas atenções», afirmou
aos jornalistas.
Para além de questões
relacionadas com o mal estar do relatório dentro da aula sinodal, que dominaram
a conferência de imprensa, o cardeal Napier teve ainda oportunidade para
explicar como o círculo menor de que é moderador abordou a realidade da família
nos dias de hoje. «Falámos sobre a família como tendo as flutuações de um dia:
de manhã, quando tudo é fantástico, de tarde, quando as dores começam a
sentir-se, e de noite, quando os problemas surgem e temos de lidar com os
problemas. Parece que os problemas não vão terminar, mas é preciso levar uma
mensagem de esperança de que uma nova manhã irá surgir», lembrou o cardeal
sul-africano.
Referindo-se à missão de cada
família, este prelado defendeu que, hoje, também a família tem de ser
missionária. «No passado a Missão era reservada a religiosos, mas a novidade é
que a família compreendeu que pode ser não apenas objeto da evangelização, mas
também agentes da evangelização, e hoje temos famílias que saem, depois de um
período de formação, para a missão. E isto é muito rico, porque para além do
anúncio da doutrina, há a riqueza do testemunho», disse o cardeal Napier.
Texto: Ricardo Perna
Foto: News.va
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