7 de outubro de 2014

Sínodo quer mudar linguagem da Igreja


No briefing desta manhã na Sala de Imprensa do Vaticano, os porta-vozes Pe. Lombardi, Pe. Rosica e Pe. Dorantes tiveram a companhia dos Cardeais Vincent Nichols, arcebispo de Westminster, no Reino Unido, e do Cardeal Raï Béchara, Patriarca Maronita de Antioquia. As discussões da tarde de ontem e desta manhã centraram-se no conhecimento que a família tem do magistério da Igreja e nas relações entre família e lei natural.

Num resumo apresentado aos jornalistas, o Pe. Rosica falou na necessidade de «mudar a linguagem» da Igreja, «não a sua doutrina». «Frases como “viver empecado”, ou “mentalidade contracetiva” não são formas de atrair as pessoas à Igreja». Podem ser vir para etiquetar as pessoas e afastá-las de Cristo», disse o sacerdote americano, que confirmou que, entre os padres sinodais que falaram ontem e hoje, «houve um grande desejo de mudança de linguagem».

O Cardeal Nichols confirmou esta vontade de mudança da linguagem, nomeadamente no que diz respeito ao casamento. «Um dos padres defendeu que temos de abordar a realidade do casamento com uma linguagem positiva, e há muita coisa positiva que podemos referir», disse o prelado.

Sobre a indissolubilidade do matrimónio, e apesar de não ser este o dia para dedicar a esse assunto, o Pe. Lombardi referiu que foi refletida a exegese que é feita das leituras de S. Paulo sobre a indissolubilidade do matrimónio. «Não se põe em dúvida que esta leitura coloque em causa a vontade de Jesus, mas há aqui elementos de experiências de dificuldades na Igreja primitiva, e por isso é preciso fazer uma interpretação da aplicação das palavras de Jesus. Mas não se tomaram quaisquer decisões sobre isso», afirmou o sacerdote italiano.

Questionado na conferência de imprensa sobre se a Lei da Gradualidade, que existe na Teologia Moral e que defende uma aproximação gradual de Deus, pode ser aplicado aos casais divorciados e recasados, o cardeal Nichols pediu «paciência». «Há fundamentos que podem ser lançados para discussão, mas temos de ver como. O santo Padre pediu-nos que tivéssemos paciência e deixássemos que a imagem surgisse gradualmente, e ainda estamos no primeiro dia», afirmou o prelado.

Maior exigência aos noivos
Outro dos temas muito abordado pelos padres sinodais foi a necessidade de uma maior exigência na preparação para o matrimónio dos noivos. O Cardeal Vincent Nichols concorda com essa «necessidade». «Os padres precisam de exigir mais aos noivos para que os sacramentos sejam verdadeiramente compreendidos na sua totalidade», considerou o prelado.

O Pe. Lombardi explica que muitas intervenções abordaram a «importância dos requerimentos para o matrimónio», e a «exigência» que se deve ter para «aceitar os casais que se apresentam para o matrimónio na Igreja». «Não deve haver medo de ser exigente», disse o sacerdote italiano, mas não foram anunciadas nenhumas propostas nesse sentido.

O Pe. Dorantes, que fez um resumo das intervenções dos oradores em espanhol, disse que alguns dos oradores abordaram o problema da poligamia, muito presente em certas partes do globo, e falaram da necessidade de saber «explicar as coisas e fazer uma ligação entre a lei natural e o sacramento do matrimónio».

Para além disso, o sacerdote espanhol disse que os bispos abordaram a necessidade de se mudar a estratégia de comunicação da Igreja. «Temos de passar de uma linguagem de defesa dos valores fundamentais para um ataque fundado na beleza do plano de Deus que se vive na família, disse esse bispo, que propôs um uso mais criativo dos meios de comunicação, onde se apresentariam testemunhos de vida convincentes, baseados a realidade e não na teoria», disse o sacerdote.

Abordado foi ainda a problemática dos sacerdotes casados no Oriente e da dificuldade de enfrentar os seus problemas familiares. «Os sacerdotes negam a sua experiência, e não a partilham com ninguém, e isso pode causar-lhes muitos problemas. É preciso uma resposta pastoral e um acompanhamento da Igreja, dizem os bispos», afirmou o Pe. Dorantes.

Aprovada na aula sinodal foi a proposta de elaboração de uma mensagem, a enviar pelo Sínodo em nome de todos os participantes, de solidariedade para com as famílias que sofrem perseguição no Iraque.

O Sínodo inicia os trabalhos da tarde abordando os temas da pastoral familiar. Pode acompanhar todas as notícias aqui no site www.sinododafamilia.familiacrista.com

Texto: Ricardo Perna
Foto: News.va

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