27 de outubro de 2015

Noção de continuidade ajudou a superar tensões, diz perito português



O Pe. Duarte da Cunha, que acompanhou os trabalhos do Sínodo 2015 como perito nomeado pelo Papa, considera que as três semanas de debate sobre a família realçaram a «continuidade» da doutrina católica, superando tensões. Em entrevista à Família Cristã e à Agência ECCLESIA, o secretário do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE) fala em dois anos de «muita reflexão», desde que o Papa decidiu convocar os bispos de todo o mundo para debater a família, admitindo que «a certa altura houve uma tensão entre o que é novo e o que é antigo». «Todo o processo foi a compreensão desta continuidade, quer desde o Evangelho até agora, do Concílio Vaticano, da Humanae Vitae, da Familiaris Consortio. O que há de aprofundamento e de desenvolvimento, até relativamente aos conceitos e de mudança da realidade sociológica, não está em contradição com aquilo que é a continuidade», precisa o especialista.

O sacerdote português refere que no ensinamento dos últimos Papas, «com as diferenças necessárias», houve «uma continuidade, quer do amor à família, quer da verdade da família, de conceitos da teologia moral que são sempre válidos, mas que não podem ser sempre ditos da mesma maneira».

Nos trabalhos da 14ª assembleia geral ordinária do Sínodo, este responsável encontrou participantes com um conhecimento concreto da doutrina, como no caso do planeamento familiar natural, contrariando a crítica de estarem apegados a conceitos mas longe da realidade. «Depois há os outros mais aplicados à realidade, mais sensíveis aos problemas e que às vezes aparentemente descuram mais a doutrina. Isto também não é verdade», prosseguiu. No final do Sínodo, o relatório entregue ao Papa foi aprovado por unanimidade, símbolo da unidade e do «bom ambiente» com que decorreram os trabalhos.

O sacerdote português observa que a assembleia sinodal que se concluiu no domingo «exige que a pastoral, a moral, não sejam desligadas da reflexão teológica, doutrinal, sociológica do que é a realidade da família». «Isso foi algo que ao longo do processo dos dois anos às vezes parecia que estava em tensão, daí a insistência: não são duas coisas distintas, coisas separáveis», relata. Para o secretário do CCEE, é necessário compreender que «a moral é sempre consequência do ser» e que, no caso das famílias, as normas se referem à forma como «cada pessoa dentro desta realidade tem relações e dentro dessas relações qual é o comportamento». «A moral só se compreende, não porque se olha para a regras que são importantes, mas porque olhando para as relações reais, se percebe qual é o ideal, o que se deve fazer, o que Deus recomenda. Depois também se percebe que há coisas que são objetivamente más, não se podem fazer», explica.

Dos pontos conclusivos, o padre Duarte da Cunha realça a preocupação com a formação de «comunidades de famílias» que sejam também o lugar onde se prepara para o casamento, «que os noivos sejam preparados para o casamento integrando uma equipa de casais da paróquia ou da associação». Outro aspeto que não era «tão evidente» está relacionado com o «dinamismo da família» como sujeito da pastoral do setor. «Também há uma mudança da perspetiva da família, não só como tema moral mas também como dinâmica de amor, de misericórdia», conclui.

Texto: Octávio Carmo
Fotos: Ricardo Perna

0 comentários:

Enviar um comentário